A depressão é um transtorno mental que causa a sensação de incompetência, irritação, tendência ao pessimismo, retraimento social, diminuição do prazer, comprometimento cognitivo (como perda de memória e dificuldade de raciocínio), baixa autoestima e tristeza, prejudicando seriamente a rotina diária. Na América Latina, o Brasil é o país com o maior número de pessoas com depressão.
Com tantos sintomas e variações da doença, surge a dúvida: é possível tratar a depressão sem remédios? De acordo com Mírian Cristina da Silva Santos, psicóloga pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a psicoterapia, realizada por um psicólogo habilitado, é a forma de tratamento não medicamentosa mais segura e utilizada para os tratamentos do transtorno depressivo. “Essa modalidade de terapêutica, de embasamento científico, utiliza a fala, o autoconhecimento e acolhimento empático para reestruturar o psiquismo humano”, explica.
Outras modalidades que não utilizam medicamentos e são usadas como coadjuvantes no tratamento da depressão são a terapia ocupacional, a meditação mindfulness, as atividades físicas, dentre outras. É importante salientar que nenhuma modalidade citada acima substitui a psicoterapia.
Apenas atividade física e alimentação podem solucionar?
O transtorno depressivo não pode ser tratado apenas com exercícios físicos regulares, por existir um componente da doença que está ligado ao conjunto de crenças e pensamentos que a pessoa tem.
A psicóloga explica que existe algo da ordem cognitiva a ser considerado: a maneira como a pessoa vê a si mesma, o mundo ao seu redor e como vivencia as experiências do dia a dia. “Isso não se trata na academia ou com remédios, se faz necessário um intermediador que auxilie a pessoa na compreensão do próprio modo de funcionamento e também no fortalecimento individual. Esse processo se dá através da autoanálise na psicoterapia”, afirma.
O exercício físico é importante nesse processo, porque estimula a produção de substâncias essenciais para o bem-estar (tais como serotonina e endorfinas). Além disso, a pessoa tem a percepção de que é capaz de concluir os exercícios, de estar em outro ambiente, e de que pode atingir uma meta.
uanto à alimentação, Mírian esclarece que uma alimentação equilibrada é importante para melhorar a saúde em qualquer fase da vida. Entretanto, não é papel de um psicólogo fazer recomendações alimentares. “Encaminhamos para um profissional habilitado, como um nutrólogo ou nutricionista, para acompanhar o paciente caso percebamos que existe uma disfunção alimentar que está comprometendo o quadro geral de saúde do paciente. Esses profissionais irão avaliar as necessidades e conduzir as melhores indicações alimentares de acordo com cada caso”, completa.
A questão do sono
A maioria dos pacientes apresenta dificuldades para dormir (insônia) ou aumento da sonolência no período do dia (hipersonia). Essa desregulação no sono prejudica na produção eficiente dos hormônios que trazem bem-estar para o indivíduo de forma geral e que na sua falta, podem aumentar os sintomas da depressão, tais como: cansaço constante, desânimo e apatia.
“Tratar disfunções do sono em pacientes com quadros de depressão é fundamental para o tratamento, pois o descanso reparador, proporcionado pelo sono de qualidade, é um regulador biológico. Nesse sentido, a terapia cognitivo comportamental utiliza protocolos e técnicas específicas para auxiliar esses pacientes”, conclui Mírian.
As limitações e desafios do tratamento não medicamentoso
É preciso compreender que o transtorno depressivo tem diferenças que vão desde sintomas mais leves, em alguns casos, até os mais graves. Nos casos em que o paciente apresenta alto grau de comprometimento em sua vida causado pela depressão, é fundamental haver um tratamento multiprofissional, ou seja, várias áreas se unem para auxiliar o paciente. Dessa forma, cada área profissional contribui com o seu conhecimento para a vida do paciente e nenhuma é substituível à outra.
Segundo Mírian, a modalidade de tratamento não medicamentoso (a psicoterapia), ainda tem um acesso limitado. “Muitas pessoas não têm acesso a esse tipo de tratamento. Seja por questões financeiras ou pelo desconhecimento dos benefícios que a psicologia pode proporcionar na saúde global do indivíduo. O estigma acerca de procurar ajuda psicológica também é outro entrave. Infelizmente, por falta de informação, muitas pessoas ainda associam a busca por ajuda psicológica à ‘fraqueza’ ou ‘loucura’. Por isso, muitas pessoas não buscam o tratamento adequado”, argumenta.
Em quais casos o medicamento é indicado?
A medicação é indicada para aqueles casos de depressão no qual o paciente apresenta muitos sintomas físicos que comprometem, acentuadamente, várias esferas da vida. Ou também para aqueles pacientes que não obtiveram melhora satisfatória através dos tratamentos não medicamentosos a longo prazo.
“Essa avaliação deve ser feita por um médico psiquiatra, a fim de indicar a melhor tratamento e possivelmente medicamentos para o paciente”, ilustra a profissional.
A importância do tratamento psicológico
O tratamento psicológico no tratamento da depressão é fundamental, por existirem fatores cognitivos e pensamentos que influenciam no curso da doença. O psicólogo é o profissional habilitado para auxiliar no autoconhecimento e ajudar o paciente a atravessar essa experiência de sofrimento presente na depressão.
“Isso se dá através da análise da situação de vida, das características pessoais, do acolhimento por parte do terapeuta e da oportunidade de ressignificação de vida que a psicoterapia proporciona por meio de um ambiente seguro e do uso da ciência. Nesse sentido, o psicólogo age no sentido de estabelecer uma relação de confiança, tendo como foco da terapia reconectar o paciente com seus objetivos e valores fundamentais de vida”, apura a psicóloga.